domingo, 17 de junho de 2012

Quem avisa, Vivo é.

Outro dia eu li uma crônica do Antonio Prata, postada na página do Flavio Lembo, que narrava com maestria, as sensações:
“ Poucas coisas nesta vida são mais tristes do que receber uma mensagem da operadora de celular.”
Falava sobre o estado de expectativa gerado quando o aparelho dá o sinal de nova mensagem. Você vai ler e descobre que é algo que eles querem nos vender. Desmorona o mundo. Tudo se acaba. É algo do interesse DELES. Um orgasmo é adiado.
E, realmente, a sensação de vazio, desamparo, incomoda. É como se você desse a chave de casa para uma namorada e ela não soubesse usá-la. Como que se ela aparecesse, com a mãe e os irmãos, fazendo barulho no meio da noite de uma quarta feira chuvosa sem te avisar. E você dormindo, ingênuo, entrasse num pesadelo invertido – aquele na hora em que você acordasse.
Mas não quero, aqui, nem tentar concorrer com o texto que li. Era magistral.
O que me leva ao assunto é a lembrança que tive deste desabafo.
Meu telefone tocou. Era uma mensagem chegando. Na verdade era mais um balde de água fria, deles, na nuca, neste inverno gelado.
Era a Vivo me “informando” que minha conta havia chegado, “informando” valor e código de barras para a “eventualidade” de ela não chegar à minha casa. Todo mês, antes do vencimento da conta, chega este simpático aviso. Qualquer dia eles me dizem que podem vir buscar o dinheiro, se precisar. É uma preocupação tão grande em manter a minha pontualidade nos pagamentos, que eles não se incomodam em incomodar. Não se tem a menor noção de elegância nem de etiqueta, conveniência. Eles entram na minha casa, no meu carro, cozinha, onde for: “-Pague sua conta!”.
Engulo em seco. Não sei nem pra quem reclamar. Se soubesse, o que eu diria? "- Sou bom pagador. Não precisam me lembrar.". É uma cutucada infame que tenho que aguentar. Uma atitude covarde, de quem tem acesso aos meus dados, minha intimidade. Um abuso, uma falta de senso. Como comer de boca aberta, falar de boca cheia, cutucar o nariz na minha frente, sei lá.

Logo passa e deixo pra lá. Mês que vem acontece de novo. No seguinte também.

Um dia vou morar na floresta. Vou voltar às origens. Sinal, só de fumaça. Celular nunca mais.