Minha mãe me dizia: “Meu filho, se vc quer ser poeta, não escreva
sobre você. Não use a primeira pessoa, jamais. Do alto de sua sabedoria, ela, uma escritora consagrada,
ditava leis. Tanto quanto me ensinava que num quadro se pinta primeiramente o fundo.
E as camadas vão se sobrepondo. Realmente ficava difícil pintar o céu por último.
Naquela varanda, para não ter asma com o cheiro da tinta a
óleo, eu imaginava o mar.
E, sem escrever sobre mim, como incauto hoje o faço - falando
na tal da primeira pessoa,
eu nadava no mar que imaginei.