Parecia mágica. A professora Nely, do Santo Américo,
escrevendo.
Eu sabia que tudo estava correto, um perfeito português.
Isso me fascinava. Acho que fez parte de meu amor pelas letras, pela boa
escrita. Além de meus pais, escritores, ela me dava a base, a teoria, a
espinha dorsal.
Eu a via escrevendo e sentia vontade de ter aquela fluência,
leveza em escrever certo. Tudo correto.
Ela era engraçada. As notas das provas eram em décimos. As
minhas, 3,28 ou 4,32. Coisas assim. Parecia, às vezes, que era professora de
matemática, pela exatidão.
Ela era temida. Tinha um nariz enorme, como aqueles de
bruxa, com verruga e tudo. Ela era séria e muito brava.
Mas eu quebrava esta sua sisudez e fazia aquela senhora
baixinha e muito rígida dar risada. Ela não aguentava e ria muito comigo, a
bruxa da escola.
Ela começou a gostar de mim. Depois que saí da escola a
visitava sempre, na porta da sala dos professores. Chegou a me apresentar uma
sobrinha, querendo nos casar.
Chegou, também, a me passar de ano, sem poder, quando meu pai
faleceu.
Pra quem lembra e conheceu: professora Nely Arid. Ficam
minhas saudades.
Um beijo, minha bela professora.