quinta-feira, 17 de março de 2011

Meu pai Arnaldo

  


  


Um sonho impossível.

Na estrada para Valinhos, naquele Dodge Dart vermelho, de capota preta, que ele comprou do José Mauro de Vasconcelos, aquele do Pé de laranja Lima, seu amigo. Trocando marcha, aquela ainda no volante, com apenas 3 opções de velocidade. A volta era sempre às 5 da tarde de domingo. Aquele pôr do sol: 

"-João, pega a máquina! Vamos fotografar!"

Eu, que já estava dormindo no meio do banco (as janelas eram deles, do João e do Pedro, mais velhos), naquele carrão de banco de couro com o antigo "cartucho" tocando estas e muitas outras músicas - de ópera a Frank Sinatra, Edith Piaf...Mozart e tudo mais de bom que existe neste mundo da música erudita - acordava com um só olho, que via aquele sol vermelho, brilhando ainda.

Aquela paisagem cheia de eucaliptos, num clima frio e seco, na estrada de terra. Como aquilo era lindo.
Aquele sítio do meu tio Mingutinha (Domingos, nome de meu avô) combinava com o clima épico de cavaleiros espanhóis mesmo.

Tinha andado a cavalo dois dias seguidos, como em todos os fins de semana. Minha égua Babieca - nome do cavalo de El Cid, um herói espanhol, cuja fama fez muita gente tremer nas batalhas. Mesmo depois de morto foi amarrado à sela, para amedrontar o inimigo e assim aconteceu mesmo.  Diz a lenda que ele ainda cavalga, até hoje.

Babieca. Ela vivia me enganando. Eu sempre caía dela. Caímos juntos, até. Seis pontos no queixo, de recordação.

Ele era sisudo. Gozador ao mesmo tempo. Partiu cedo. Eu tinha 14 anos. Ele 49. Quase minha idade hoje.

Em seu funeral tinha muita gente. Muita gente mesmo.

Conheci meu pai por intermédio das pessoas que o conheceram.

E até hoje me impressiono.



No carro, ele acompanhava cantando esta música, com esta mesma gravação, e sua voz era igual à de Don Quixote:

To dream the impossible dream
To fight the unbeatable foe
To bear with unbearable sorrow
To run where the brave dare not go
To right the unrightable wrong
To love pure and chaste from afar
To try when your arms are too weary
To reach the unreachable star

This is my quest
To follow that star
No matter how hopeless
No matter how far

To fight for the right
Without question or pause
To be willing to march into Hell
For a heavenly cause

And I know if I'll only be true
To this glorious quest
That my heart will lie peaceful and calm
When I'm laid to my rest

And the world will be better for this
That one man, scorned and covered with scars
Still strove with his last ounce of courage
To reach the unreachable star


Reconheci seu caráter nela.

E fico tentando seguí-lo, sempre procurando pistas.



                                                             El Cid e Babieca

O maior de todos os heróis da era cristã foi conhecido como Ruy (ou Rodrigo) Dias. Ele foi o líder da Reconquista, o movimento que deu fim aos 700 anos de ocupação moura na Península Ibérica.

Ruy Dias era conhecido como El Cid. Nasceu em Vivar perto de Burgos em Castilha na Espanha, em torno de 1040 d.C.. De um valente soldado profissional ele passou a ser considerado o herói que salvou seu país. Seu feitos são descritos em poemas como o Poema del Cid e mais tarde Cronica Particular del Cid (1512), o qual descreve a história do homem e de seu fiel cavalo branco, Babieca, o qual o acompanhou em combate durante 30 anos.

O cavalo foi presente de seu padrinho, o padre Peyre Pringos. Peyre Pringos tinha condições de oferecer ao seu jovem afilhado os melhores cavalos da região, pois antigamente as casas religiosas espanholas criavam belíssimos animais. Porém o jovem escolheu um cavalo imaturo e considerado sem um grande futuro. Isto levou o padre a exclamar: "Babieca", o que significa Estúpido!, nome o qual o cavalo passou a ser conhecido.
Babieca era considerado um cavalo de guerra ideal. Era o que hoje é considerado um cavalo da raça Andaluz. Tinha um um bom peso para a raça. porém não media mais do que 1,52m. Ele respondia prontamente aos comandos de seu seu dono, era ágil e muito corajoso.

El Cid morreu em combate em 1099 em Valência. Sabendo que isto iria baixar a moral de suas tropas e encorajar o inimigo a avançar, ele deu sua última ordem. Em obediência a esta ordem, seu corpo foi amarrado à sela de Babieca, seu escudo colocado na devida posição e sua espada foi apontada para cima em sua mão sem vida. A meia noite em ponto El Cid, morto, conduziu seus homens ao campo dos mouros. Os cavaleiros estavam vestidos de branco e carregavam banners brancos. Diz a lenda que o rosto de El Cid apareceu pelo visor de seu capacete e se iluminou de uma maneira jamais vista.

A visão fantasmagórica em cima de um cavalo totalmente branco, galopando em silêncio em direção aos mouros, causou pâncico entre os mouros que gritavam que El Cid tinha resucitado dos mortos! Os espanhóis os derrotaram facilmente.

El Cid foi enterrado no Monastério de San Pedro Cardena, perto de Burgos, porém seu corpo foi removido para a Catedral de Burgos. Babieca nunca mais foi montado e morreu dois anos depois, quando tinha 40 anos.

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