sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Histórias do Benga - 4, Acarajé no Kilt


Depois da balada no O Ponto, uma boate de coroas nos Jardins, a gente ia comer acarajé que uma baiana fazia na porta do Kilt, boate de profissionais do amor, no centro.
Era muito bom este quitute, principalmente depois de se tomar muito uísque a noite inteira. E lá íamos nós, de fogo, é verdade, pra Nestor Pestana, na madrugada do dia 25 de janeiro de 1.984, segundo o Julio Saba, que ia guiando.

Eu sei que depois de comer uns dois ou três, apaguei sentado no banco do Fiat branco que ele tinha. Ele também comeu e voltou para o carro para irmos embora. Estava amanhecendo.Uns minutos depois, abri um olho e vi que estávamos na 23 de maio. Fechei de novo e, de repente, o carro começou a ziguezaguear e cantar pneu. Eu, relutante em acreditar que precisava acordar, vi que a coisa estava séria, pois íamos capotar. Só deu tempo de proteger a cabeça. Capotamos.

O carro deslizou uns metros e parou de ponta-cabeça na avenida.
Já acordado, pulei fora dele e vi que o Julio, meio dormindo, não saía. Puxei-o pela gola da camisa e o tirei pela frente do carro, já sem vidro. Aquilo podia explodir, pensei. O sonho virou pesadelo.

Começamos a recolher o que era nosso do carro, chateados. O Julio blasfemava.
Eis que surge a polícia, achando que o carro não era nosso e que estávamos a depená-lo, como saqueadores.
O policial inquirindo e o Julio dizendo que era sobrinho do Maluf, e eu dizendo que era brincadeira dele pro guarda. Foi uma saia justa.

Minha mão saiu esfolada. As costas dele também, do momento em que o puxei pra fora. A minha chave de casa ficou entre o carro e o asfalto e dissolveu um pouco.
Coitada da minha mãe, Dona Therezinha.

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