segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Histórias do Benga - I



Os dois figuras em 1981


Eu (antigamente, muito antigamente, atendia por Benga) e meu irmão, o João, estudávamos no Santo Américo, na adolescência. A gente só aprontava.
O colégio tinha um sistema que era o seguinte: se o aluno faltasse, eles ligavam para a casa dele para saber por que faltou. Se atrasasse três vezes, o aluno não podia entrar. Voltava para casa na terceira e nesse caso eles não ligavam.

Bom, o que a gente fazia: chegávamos atrasados duas vezes, e, na terceira, sempre éramos barrados. Provocávamos a situação e íamos passear, encontrar as namoradas, etc.. Uma vez paramos embaixo de uma árvore e dormimos na Brasília, de portas abertas, porque estava calor.

Outras vezes colocávamos a tomada do telefone (sabe aqueles telefones que tinham plug, antigmente?) em meio estágio, o que criava pane na linha, que ficava dando sinal de ocupado. O “seu” Paulo, da Portaria do colégio, ligava a manhã inteira para saber o motivo da falta e desistia.

O diretor, professor Nello, só de olho, uma vez, em nossa “terceira atrasada”, sacando o que fazíamos, nos viu “implorando para entrar”, dissimuladamente, para não dar na cara.
Ele disse: “Ok. Podem entrar sim. Eu acho que não é bem o que vocês queriam, mas eu vou deixar.” Fomos obrigados a “agradecer o privilégio” e entramos acabrunhados.

Escolados, numa vez seguinte, resolvemos faltar de uma vez. Assim não tinha este “perigo”. Quando demos por nós, lembramos que o telefone tinha ficado funcionando. Eles iam ligar! Nossa mãe, que Deus a tenha, estaria na porta de casa, desesperada - visualizamos.

“- Boa idéia! Batemos o carro e justificamos!”

O primeiro poste foi o cúmplice. Lá se foi o carro pra Cibramar.
A Brasa em Maranduba, um lugar que, se falasse, teria que ser eliminado do mapa.

Pastel de feira

Foto: Beco Bresler

Ir ao CEAGESP é uma aventura interessante. Aquela fartura toda... Tudo fresquinho...

A barraca do pastel é unanimidade. Sempre esgota seu estoque. Aquilo é muito bom. Filas se formam para a degustação. Quentinho, feito na hora. Tentação.

Mas aquele óleo suspeito... As unhas do atendente... Balcão bagunçado. O molho de pimenta, o de tomate com repolho, colherzinha de plástico, que não enganam ninguém. Fazem parte do “tempero”, do sabor.

Se triglicérides tivessem Quartel General, este seria seu endereço. Sem falar no amido, glicose pura na veia.
Ah! E o colesterol... Uma legião desses bichinhos nervosos entrando em nós, que sorrimos de boca cheia.
Aquele quibe que deveria exigir porte de arma para se poder comprar.

Aquele pastel “Especial”, onde vai feijoada, lasanha, ovo cozido, picadinho, espaguete... Tudo que você imaginar, no recheio. Mais parece uma bomba embrulhada pra presente.

Devia ter uma placa na barraca: “Isto é veneno.”, ou algo assim, como se faz com os cigarros.

Depois de divagar sobre o assunto, viro-me para o rapaz:
“- Acabaram com o quibe? Puxa, você nem avisou...”

domingo, 30 de janeiro de 2011

Amor - versão da caixa do Pão

Foto: Beco Bresler

Ela tomou o maior Sustagem com a surpresa. Era ele chegando para as compras.
No turno da noite, apesar de não ser Bohemia, trabalhava, muito Activia.
Ele era uma agulha na batata palha. Omo ele não era. Yoki ele era solteiro, coisa rara. Mas, pra confiar, tem que ser em Becel - pensava ela.
Ele não era nenhum Garoto. Nem Zorba, um grego. Também não tinha muita granola.
Ela jovem e Sadia. Sonhava em passear na gôndola, ferver o sangue na aveia de emoção.
A Quinua, sentia-se lá, na frente dele. Era batata.
Não era Lindóia, mas se cuidava. Tinha, cá, fé, indissolúvel, trabalhando sem descanso, quase. Era uma vida de grão em grão.

Mas já estava farta do gerente, bom grão-de-bico sem vergonha que assediava. Pra dar o troco, nunca tinha as mesmas moedas. Mortadela mesma sentir vergonha, ficava congelada. Aquele frango sem pé nem cabeça ficava na panela dos gerentes, olhando de longe, cozinhando o galo. Ela, sem Papardelles na língua, não gostava. Achava que ele era um saco de lixo – dizia às colegas.

De outro lado, ele lá, Perdigão, não encontrava nada que procurava. Achava que, mais de um Tostão pelo Café Pelé, não dava. Ela, só registrando tudo, do caixa. Achava mesmo que ele era um pão. Pão, pão, queijo, queijo, na verdade. Tinha que fazer Quaker coisa.
“- Se ele abrir uma Coca...Cola? Cerveja, Soda gelada, lógico...”, pensava. Danone pingo d’água pra falar com ele.

Brilhante idéia: acendeu uma lâmpada na hora, para atrair seu amado, com a senha.
Ela era seu número.

“– Cliente Mais, do Pão de Açúcar, senhor?”, pergunta.
“- Mais, muito Mais. Você nem imagina.”

Eles dão um Sorriso...

Finn. Acabou-se a dieta.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Opinião



“Na minha opinião...”
Isto também incomoda.
Você pergunta uma coisa para a pessoa e ela diz isso.
Não sei exatamente por que me diz que é “na sua opinião”.
Se perguntei a você, é lógico que quero saber a SUA opinião! Ou, como quando me disse que, “pra ser sincero”, também não dava sua própria opinião até hoje, antes de dizer isso? Eu estava achando que você sempre dava a sua opinião. Sua cabeça era uma folha de papel em branco, até então?
Como assim “na minha opinião”?!? Normalmente você não tem opinião?
Preciso avisar que não quero a opinião de outro quando te perguntar alguma coisa?
Não seria o contrário? Dizer que na opinião de “Fulano” isto é assim – mas tão somente quando quer citar a opinião de alguém?
“Na sua opinião”? Não mude a minha sobre você.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Os índios do futuro

Foto: Beco Bresler


Se os deuses fossem mesmo astronautas, como disse Däniken, os dragões seriam naves e assim por diante.
Fascina a idéia de sermos nós mesmos voltando no tempo levando tecnologias desconhecidas, até então, como uma cobra que morde o próprio rabo. 
A tecnologia humana dando saltos, orientada por aquela nova ordem que chegava do futuro.
Como se fossem jangadeiros atravessando o céu em antigas naves encontrando a ingenuidade necessária para se criar mitologia.

Dizem que os índios, nos Descobrimentos, não notavam as caravelas, por não fazerem parte de sua realidade visual. Para eles, simplesmente “não existiam”. Olhavam e não as viam. Elas lhes pareceriam parte da Natureza, talvez. Ao ancorar e chegar em botes, os navegantes apontavam para as Naus e eles não as enxergavam.

O que será que, para nós, hoje, os “novos índios”, “não existe” no horizonte?
Nossas “caravelas” do futuro...

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Minha tia Lurda


Quem me conhece, conhece minha madrinha. A Lurda, tia Lourdes.

Ela sempre me paparicou. Ganhei carros, motos, muita coisa dela, que sempre me tratou como filho. Fez tudo o que pôde e, até, acredito, o que não pôde, por mim. À noite, na infância, ela contava estórias para eu dormir.

O problema é que, desde criança, eu sou notívago. Acabo sempre dormindo tarde.

E minha tia dorme muito cedo e acorda “com as galinhas”, como diz ela, muito cedo também.

Lembro-me dela, coitada, querendo me hipnotizar, contando as estórias, para as quais eu dava até briefing: tinha que ser de cavalo (eu avisava como seria o cavalo, etc.).

Ela contando, dizia “o cavalinho corria, corria, corria...” e eu impaciente, dizia “mas aonde ele chegou, tia?” e ela ia tentando contornar e me fazer dormir.

Numa dessas noites de ar refrigerado no Rio de Janeiro (eu não saía do quarto dela, geladinho, o dia todo, inclusive) eu a extorqui: prometi que dormiria se ela me desse um sorvete de sete bolas – detalhe: tinha que ser de sabores diferentes.

E o tal do sorvete de sete bolas ficou famoso, falado na família. Os rumores: "onde ela irá achar um sorvete de sete bolas para este menino?"

Até que um dia fomos à Colombo, uma casa de chás e lanches muito conhecida no Rio. Quando sentamos e pedimos o tal sorvete, o garçom fez uma cara que ela não gostou nem um pouquinho e disse algo pior ainda. Ele estava “achando errado” ela fazer isto por mim.

“- Muito obrigada. Iremos a outro lugar!” Levantamos e fomos embora.
Naquele momento ela virou minha heroína, como em tantas outras vezes.

Depois só conseguimos achar as bolas de sorvete em separado, mas, para mim, confesso, foi muito mais legal assim.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Fazendo fumaça

Drinkcannacola/Divulgação

Quando minha falecida mãe dizia “tomou maconha”, nós dávamos muita risada.
O nível de sua ignorância no assunto era impressionante. Melhor assim.
Hoje leio na Folha que estão lançando no Estado do Colorado, EUA, em fevereiro, um refrigerante da erva, com sabores diversos - cola, laranja, limão, uva...
Dizem que o efeito é o mesmo que o de uma cervejinha.
Imaginei aquela figura que olha para os lados e abre o casaco, e, dentro dele, estariam os produtos. Você escolhe e ele discretamente lhe passa uma garrafinha.
Pensei no carrinho em frente às escolas, vendendo doces e refrigerantes de maconha.
A mãe falando para seu filhinho: “- não gaste tudo em refrigerante! Pode estragar seu cérebro!” (Antes eram os dentes. Quem se lembra?), e a criançada "doida" pra ir pra escola.
Vejo a minha mãe, lá do céu, olhando isto tudo e, com uma risadinha de canto de boca:
“- Bem que eu dizia...”

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Cara Polishop and friends

Retirado de minha caixa postal.


Falo com vocês em nome de todos os meus amigos.

Falo com vocês em nome de todos os seus amigos.

Eu não quero aumentar meu bumbum nem meu pinto (pênis). Não procuro Viagra nem “bolinha” nenhuma (a preços inacreditáveis!).
Tenho medo de clicar naqueles links que prometem parar de me encher, lá no rodapé de seus emails infames, porque pode ser um problema pior.

Ao “Bradesco”, informo que, para recadastrar meus “dados” seria preciso eu ter conta na instituição.
Eu não passo corrente nem acredito nelas. Não quero ser o décimo de sua lista, por favor.

Um dia vai ter solução. Sei que ainda demora.

"Considero minhas obras como cartas que escrevi à posteridade, sem esperar resposta." Heitor Villa Lobos

A luz e o tapete

Descartes




Ontem acabou a luz.
Velas acesas. Silêncio absoluto. Encontramo-nos, eu e minha cabeça, isolados.
Para ler era difícil. Nada funcionava. Abri a porta da rua e busquei alguma réstia de luz, vida. Relutante ao fato que teria que me contentar comigo mesmo, pensava, gostava, parava. “-Estou apenas pensando.”,  pensei. Naquela escuridão veio a luz. O estalo. Lembrei-me de como os tapetes persas são lindos, de como a luz faz sua falta. A energia.
Lembrei-me de uma coisa que já pensei: “o cérebro é o único órgão que tem consciência de si mesmo.” “-Estou apenas pensando.", pensei.
Não quero que pensem que estou biruta, mas pensar é muito bom.
Discordando de Descartes, PENSO, LOGO A LUZ ACABOU.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Toalete a bordo




Antes que eu me esqueça, sou consultor financeiro. Ajudo as pessoas a se planejarem para fazer, manter e transferir suas riquezas. Sou o Chefe de cozinha de seu banquete financeiro.
É curioso: a única forma de se ficar abonado, sem se ganhar na loteria ou herdar uma fortuna, é gastando menos que se ganha. Parece tão óbvio, né? Milhões são feitos de muitos centavos juntos. Portanto poupar pode lhe salvar da pobreza no futuro.

Você sabe a diferença entre ter uma Pagero e uma Cayenne?
Caso opte pela Pagero e deixe a diferença aplicada durante 20 anos, terá guardado um milhão de dólares. Isto pode não resolver sua vida na velhice, mas com certeza fará uma boa diferença.
Vejo inclusive pessoas comprando carros de 100,000 dólares e morando em apartamento alugado. O carro dá despesa e deprecia além de não gerar nenhuma receita. Carro não é casa, gente. A não ser que você more num trailer.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Espaço visceral



Quando abri este espaço, os mais chegados disseram para eu continuar escrevendo. Para ter disciplina. Que estava excelente e tudo mais. Mas não precisava ter disciplina. Eu gosto muito de escrever. É uma necessidade.

Se não disserem para eu parar... Já está muito bom. Continuo.

Na verdade, se alguém, uma pessoa, duas, disserem, não me incomodo. Continuo.

Pensando bem, algumas pessoas podem mesmo dizer isso. Seria normal. Acho que não páro mesmo assim.

Tudo bem.

Se mais que algumas disserem... Não páro.

Se muitas pessoas disserem, eu NÃO PÁRO!


CASO TODAS AS PESSOAS DESSE MUNDO ME PEDIREM EU NÃO PÁRO!

QUERO VER QUEM VAI ME OBRIGAR!

TÁ PENSANDO O QUE? FAÇO O QUE EU QUISER, ENTENDEU??

NINGUÉM MANDA EM MIM...

VOCÊS VÃO VER!

sábado, 22 de janeiro de 2011

Por você - no que deu



Por Você                                                        Por Você, amor
Eu dançaria tango no teto                                To sem teto, coloquei uns ladrilhos
Eu limparia                                                      Minhas mãos se machucaram nos trilhos
Os trilhos do metrô                                          Cheguei podre de cansado em Salvador...
Eu iria a pé
Do Rio à Salvador...
Eu aceitaria                                                    A minha vida, pantera,
A vida como ela é                                           Não continua, hoje ela já era   
Viajaria a prazo                                               A viagem eu nem vou mencionar
Pro inferno                                                      No momento eu só quero ignorar
Eu tomaria banho gelado                                 Com pneumonia, e de cama eu até fiquei
No inverno...                                                   Eu tremia, parecia um nissei
Por Você!                                                       Por Você!
Eu deixaria de beber                                       Não bebia fumei erva da boa
Por Você!                                                       Por Você!
Eu ficaria rico num mês                                   Perdi tudo o que tinha na bolha
Eu dormiria de meia                                        Tive insônia e era pra te agradar
Prá virar burguês...                                          To pensando, inclusive, em te cobrar

Eu mudaria                                                    Não me chame nunca mais de Francisco
Até o meu nome                                            Nome sujo, ele virou um risco
Eu viveria
Em greve de fome                                           Eu nem como, eu apenas belisco
Desejaria todo o dia                                        No momento to pensando em separar...
A mesma mulher...                                         De Você!


Agora deu pra entender porque eu fui contra tudo aquilo?

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Por você



Eu adoro esta música, mas não concordo com quase nada. Fico discutindo com ela sempre que toca. Veja:


Por Você
Eu dançaria tango no teto         Isso pode até ser, não sei.
Eu limparia
Os trilhos do metrô                  Nem a pau.
Eu iria a pé
Do Rio a Salvador...                Hahaha
Eu aceitaria
A vida como ela é                    Isso eu já faço, por mim.
Viajaria a prazo
Pro inferno                              Nem pronuncio esta palavra.
Eu tomaria banho gelado
No inverno...                           NUNCA.
Por Você!
Eu deixaria de beber                Acho que só por mim, mesmo.
Por Você!
Eu ficaria rico num mês            Fala sério.
Eu dormiria de meia
Prá virar burguês...                  Não durmo de meia. Acho que o burguês aí só entrou pra dar rima, mas tudo bem.
Eu mudaria
Até o meu nome                      Cara, que falta de personalidade. A mulher não ia te querer.


Eu viveria
Em greve de fome                    Muito absurdo
Desejaria todo o dia
A mesma mulher...                   Isso sim. Com certeza.

Acho que é por isso que gosto tanto dessa música. Fala um monte de mentiras para provar apenas uma verdade. O sofisma invertido.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Amor – versão do boy que matou aula na época de escola

Foto da amada.


Que saldades. Ela só fazia gol de paca! Ajudava nas fianças, tinha um time comercial incrível... Uma relação niquelada, a nossa.
Mocreia em mim. A gente nunca se asfaltava. Eram arrombos de perder o cônego. Falando nisso, até me sinto um pouco eugênio, não sei por quê. Aprendiz muito com ela, sexualmente. Na saliva de TV de sua casa... Passeando de chacrete, em sua chacrinha... Aos escalopes. Só não fizemos insalubra. Nem homenagem atrás (traduzindo do francês). O resto...

Eu adoro falar difícil. Sou re buscado mesmo. Busco e re busco estábulos novos. Ela parecia não me entender. Fico apenas pixelando algumas situações. Ela ficava rindo com o meu discurso. Acho que para desfalcar sua ignorância. Mas pra mim não eram em pé cílios. I book my face (eu livro a minha cara - pra quem não entende). Isso não era de minha ossada.
Tentei voltar com ela. Ela fugia e refugia. Ainda estou em cactos. Tinha que devolver o cheque de calção que ela me emprestou para um negócio realmente glande. Eu era um solvente. Usava o nome dela. Aquele fato era o prepúcio de um novo tampo. Perdão pelo trocadinho, rs. Negócio de comida. Crepúsculos. Crepes gigantes mesmo. A idéia do nome foi dela. Quando entendi... . A loja se chamaria: Crepúsculo de um novo tempo. Fat Fool (comida rápida) de panquecas grandes em tempo recorde. Seria nossa meia de seda para o futuro. Eu criei tudo, sou criador. Tenho célebre, sim senhor.
Quando descobri que era apenas um livro, nosso negócio, o tal do crepúsculo, vi que ela estava com pensamentos variados. Variou de vez, pensei. Mas tudo bem.

Se não tivesse feito promissórias de amor...
Isso é bruxismo... Parece que fiquei decantado. Eu não estaria nesta melanina toda. Mas não sou hermafrodita para sair quebrando tudo.
Como queda d’água vou dar aulas de português.
Darei a volta da viúva Porcina. Sou culto, aprendo nas novelas, aprendo de ouvido. Sou erodido.
O ferro será aferido. Estou apenas pastelando o que é meu de direito.
Parapenteando Tom Jobim, “eu sou de Atenas, um pobre armador”.

Salão Viana



Está na casa dos 70. 76, pra ser exato.Casou-se duas vezes. Tem uma careca brilhante muito bem aparada por ele mesmo. Aquele bigodinho. Lembra Ben Kingsley, o Gandhi do cinema.
Um senhor afável e caricato.
Aquela porta envidraçada, anos 60, emoldurada por uma madeira também antiga, de boa qualidade. Tudo simples, é verdade. Como deveria ser já no seu tempo - gente entrando de chapéu... 
Cortava o cabelo do Alckmin, que é da vizinhança. Disse que saiu na Veja de dezembro e me mostrou a reportagem.
No teto um ventilador rodando. Aquelas tesouras antigas, de metal gasto, mas muito bem afiado. A cadeira de sua idade, funcionando perfeitamente.
É o “seu” Viana, quase extinto “Barbeiro Masculino”, aquele que usa navalha, não lava seu cabelo nem antes e nem depois de cortar. Voz calma, conhece todo mundo no bairro.
“- Seu Viana! Está cheio hoje?” - pergunto pelo telefone.
“- Pode vir!” – responde o simpático, metódico e viajado senhor.
Quando chego, está escondidinho na “cozinha”, almoçando. Diz que vai logo me atender. Depois de meia hora comendo devagarzinho, sem a menor pressa mesmo, faz mais uma vez a mesma pergunta de todo mês:
“– Como vai ser hoje? Máquina dois?”
“- Máquina um, seu Viana.”
Se o papo engrena, ele pára o serviço, demora, para se alongar no assunto. Fica animado, perde o foco, vive fazendo isso. E eu lá, de moicano, me olhando no espelho e esperando.
Passam um, dois, três clientes:
“- Seu Viana! Demora?”
“- Quinze minutinhos!”
Ontem me contou que o proprietário solicitou o imóvel. Fiquei perturbado.
Ele calmo, como sempre, disse estar tranqüilo.
Bem que ele disse que ia chover loguinho. Eu discordei...
Salão Viana. É uma estrela, este velhinho.
.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Apaga tudo





Dá arrepios quando alguém diz: “- Pra ser sincero...”
Mas é lógico que é pra ser sincero! Como pode passar pela sua cabeça que não era pra ser sincero? Então quer dizer que até hoje, em todos os momentos, antes desse, você não estava sendo sincero?!? Ou só em alguns?? Vai começar agora? Em todas as vezes que eu te pedi uma opinião e você deu (e eu segui!), antes dessa, não estava sendo sincero???
Como assim “pra ser sincero”?
Algum dia eu te disse: "- olha, não precisa ser muito sincero..." ?!? 
 "- manera aí na sinceridade..." ??
Eu estava sendo o tempo todo!
Pra ser sincero? Não, obrigado.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Amor - versão do farmacêutico

 



Ele sentia certo complexo. Um complexo B.
Fazia academia, era maleato. Aspirina por uma gata de lá.
Derramava lacrima plus por um relacionamento que o piroxicam, outrora. Magnopirol.
Sua cabeça no mometazona. Batendo nitrendipino.
Naquela manhã, enalapril fundo e saiu de casa. Buscopan. Buscou leite também. Mas sentiu um arrepio naderm. Foi pra academia mais cedo. Ela estaria lá.
Ela era glicada, boricada, uma hemoglobina pura. Seu sangue fervia. Ela era seu centrum. Adrenalina total...
Ele sacou da mochila seu álcool gel e passou rapidamente. O pantoprazol estava se esgotando, ela estava de saída. O estômago até reclamou. Pensou numa intervenção cirúrgica, ela exatamente na sua frente. Iria oferecer uma água, destilada. Poderia animar um pouco. Ela, meio compressa, ia dando um balde de água fria.
Destilado da roleta, não a deixaria escorregar feito sabonete. Faria barba, cabelo e bigode. Seria sua primeira loção da vida. Usaria ela fio dental?
Escreveria numa prótese, caso a conquistasse.
Olhou para baixo, ortopédico. Estava a uma palmilha dela, que era um colírio.
Ela queria era fazer residência. Talvez um cálice de vinho ao dia...
Ele quase fez a consulta. Prescrever o futuro... Alguma receita... Em sua cabeça apareceu uma tarja preta. Ela vinha sem bula. Este era o problema.
Estavam na porta da rua e ele resolveu, então, mostrar suas rodas de magnésia. Não poderia se aproximar muito dela, pois estava com gaze. Aquele ar, comprimido, fazia pressão. Pensou rápido para não perder a coragem e convidou: maca hoje à noite?
Este seria o termômetro. Queria acabar com anador. Quando ela topou ele quase entrou em listerine. Paracetamol de alegria tem que ter um bom motivo. Era ela. Sua  metformina. Agora sua vida tinha remédio.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Amor - versão do peixeiro



Ela buscava um namorado. Rezava com o saint-peter de sua devoção.
O cherne da questão era achar alguém digno, nunca gente que gostasse de surubins.
Viver numa concha. Ela seria a pérola da relação.
Não queria nada dado de abadejo, queria mesmo procurar. Suas amigas saíam, mas também de garoupa na balada dos outros não seria legal. Apareciam muitos mexilhões, apenas para mexer com os sentimentos dela. Era pescaria. Peixe na telha quente, coisa para grelhar. Mesmo porque não gostava de lugar fechado, parecendo lata de sardinha. Muito pitu... Aquela fumaça...
Queria alguém que vatapá sua panela, não gostava dos mariscos, ariscos, que sumiam sem avisar. Baladeiros vão pra rua e pronto: pirão com bebida alcoólica e ervas. Depois cação.
Não. Anchova mesmo que era muito picante. Isso nem pintado.

Não queria alguém comprometido, não queria robalo. Dava lagostim de vitória, mas era uma isca errada.
Existia seu king crab, ela sabia. No vapor da emoção, ela, siri pescada, sabia. Ele diria as coisas sem ficar vermelho. Aquele beijo linguado... Um frio na espinha... Ela iria para a lula... Lagosta de ficar... Nunca entraria pelo kani. Todo polvo iria saber. Atrapalhar? Nem adiantava tentáculos.
E aconteceu. Era arraia. Todos dançavam.
Provençal a timidez, enquanto fazia sushi, no banheiro, pensava se devia falar com ele. Treinava. Rolasse como rolasse. Alga assim natural. Paella? Tudo bem. Ela não era escamosa, apesar de fresca. Só não queria se sentir numa panela de pressão.

Ele estava de fogo baixo. Não era tão jovem. Ela gostava de guisado.
A chapa esquentou e acabaram se conhecendo.

– Alcaparras com isso... disse ela , pois ele estava meio guloso, uma porção de salmão boba. Parecia um tubarão.
Colocou as barbatanas de molho.
Ela comeu muito. Se sentia uma baleia. Não queria que ele notasse e pulasse fora.

Criaram uma raiz forte logo de cara.
Ele pensava que seria dois palitos, mas percebeu que não podia meter a colher, assim. Sabia que peixe morre mesmo é pela boca. Resolveu alimentar a situação.

Foram se conhecendo e descobriram um ponto de ebulição.
Depois perceberam estar no mesmo barco.
Mesmo às vezes aparecendo algumas piranhas nunca criaram truta nesta receita de paixão.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Amor - versão do açougueiro


Por ela, ele daria uma costela. Precisava de acompanhamento. Não era bobó - cá, todos sabiam - mas, preocupado, pensava se ela ainda usava fraldinha, pois era do tipo mignon. 
Foi dar um rolê e, se a encontrasse, veria se falavam a mesma língua ( à portuguesa ).
Ela, maturada, já dava sinais de que estava no ponto logo de cara.
Veio logo a idéia de uma dobradinha. Se a conquistasse, seria como ganhar um medalhão.
Ele queria tudo, menos levar chifres. Pensar nisso a deixou meio passada, pois sabia que era filé, mas não era do contra.
Caindo como um patinho, cuidou para que não fosse moído por ela, que já puxava a brasa para o seu lado, desde aquele dia.
Resolveram se exercitar, então, ele para aumentar os músculos, ela para perder umas gordurinhas, apesar de ele gostar mesmo é de carne.
Seria uma forma deles temperarem a relação.
Não queria levar um pé no traseiro nem entregá-la de bandeja. Não gostava de rodízio. Muito menos de banho-maria.
Entendia que para a relação durar, precisava ganhar mais carvão. Nada de miúdos, coisa grande, para guardar embaixo do colchão.
Um colchão mole, macio, seria muito melhor.
Conseguiu um emprego numa peixaria. Trabalho braçal, coisa pra fazer muqueca, mas ele não era uma ostra, nem ela um bacalhau. Este mar não daria frutos, pensou. Além de tudo o patrão era um suíno. Precisava ter fígado...  Mas, apaixonado, comportava-se como um cordeiro. Queria pintar o mundo com uma paleta. Foi quando passou pela porta de um açougue e descobriu sua verdadeira vocação.
Colocou tudo numa balança e parou de encher linguiça. Fritou o emprego antigo antes que desse bode e foi logo se candidatando. Não era nenhuma boiada, ele sabia. Entrecote e outro, descobriu que ela esperava com um baby beef, quentinho, no forno. Emocionado, colocou lenha na fogueira e disse querer mais uns dois. Era de coração. Ela, que estava longe de ter ficado um bucho, ficou encantada.
Logo abriram uma rede. Fizeram carré no ramo.
Os rebentos berravam como bezerros. 
Nunca foram salteados, graças a Deus, e a vaca nunca atolou.
Ele foi criando uma pancetta, normal, para a idade.
Mas como a criatividade era um dos ingredientes, sempre rendia um caldo.
E o fogo nunca apagou.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Vim de taxi



Dentro dele eu tento fazer diplomacia. Tento não ver as más intenções. Bato papo e testo minha paciência com os vícios deste senhor.
Ele adora pegar sinal fechado, força um pouco a situação. Guia como quem está com a vida ganha... Pressa pra quê? Ele está com passageiro mesmo, melhor fazer o taxímetro rodar bastante – como se fosse mesmo aumentar o valor.
Ele puxa assunto, tenta me distrair. Testa meu humor e sonda minha tolerância.
Vejo os outros motoristas guiarem normalmente, passando por nós como que por uma tartaruga cansada.
Mais um sinal fechado e minha vingança começo a arquitetar.
-Sr. Osvaldo, desculpe. Acho que vou vomitar. Não passo bem. Podemos acelerar?
De repente, agora com medo, a raposa vira lebre e me entrega em casa, mudo e calado, olho arregalado, sem nem piscar.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Camiseta branca

Eu adoro camiseta branca.
Não me agradam as que dão alguma mensagem. Que me "ensinam" alguma coisa.
Leia-se branca as pretas, azuis, amarelas, sempre monocromáticas, as verdes e as brancas também.
Listas largas, horizontais, agradam de vez em quando. Sobre as golas eu falo outro dia.

Eu adoro camiseta branca. Vivo cotando. Sei o preço. Tecido. Marca. Variedade em geral.

Com as listas do time eu deixo, não me agrada, mas deixo, é meu time...

Camiseta branca, eu adoro.
Não adianta pensar que é a mesma. Tenho muitas, você nem imagina. Vejo o estoque. Economizo, se preciso. Uso até outra coisa.

Mas, o que eu adoro, mesmo, é...

camiseta branca.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A LENDA DOS COQUEIROS E O FOGO. (Para as crianças colorirem.)


O mundo existe há muito tempo. O mar, o fogo, as árvores, o sol...
Tudo isso é amigo e se respeita, se equilibra. Uma amizade antiga que já teve brigas, vulcões, calmarias, conversas e muitas mudanças, até hoje.
Pelo tempo ser tanto e os dias e noites estarem sempre se encontrando, as árvores, os bichos, o mundo renasce diariamente. Existem as árvores avós, os bichos netinhos... é como se o mundo e as estrelas já estivessem de barba crescida, como o nosso velhinho Papai Noel. Mas o mundo renasce e fica com "Cara de Novo" todo dia. É que tudo que existe é saudável e forte. É a Natureza. Ela protege o peixe do sol com a água, as escamas... protege o passarinho com o ovo, a tartaruga com o casco... ela sempre protege.

Um desses amigos de todos, o homem, às vezes se esquece de sua amizade. Ele tira da amiga Natureza o que ela cuidou tanto tempo para criar e esquece de agradecer, cuidando. E a Natureza bondosa continua oferecendo toda sua beleza.


Oferece palavras em forma de árvores, bichos e ventos.

E  nesta conversa que nunca termina foi comentada uma lenda muito antiga que vem vindo entre os bichos e as árvores. Eles resolveram contá-la para o homem para ver se este enxergava o que fazia com seu próprio mundo. A Natureza vive dando lições construtivas ao homem e este ainda parece ter pouco aprendido. É até engraçado: o único homem que aprende com a idade avançando é o índio. Os mais jovens até os respeitam... por tanto que sabem.
 E foi justo a um velho e sábio cacique que esta lenda dos coqueiros e o fogo foi contada.

Numa noite bonita, estrelada, num mês de julho de um ano distante, o velho índio tentava contar as estrelas e se perdia no meio.
Começava de novo e nada.
E nessa gostosa brincadeira de conta-reconta e admira e gosta, o nosso amigo cochila. Sonhando, se encontra com todos os bichos da mata, falando.

- Mas não é possível! gritou na língua dele.
- Eu sempre falei com os bichos! Mas eles não falam comigo!


- O senhor que se engana... falou a esperta raposa.
- Existe uma história que nós contamos para nossos filhos e os filhos de nossos filhos e assim por diante, cochichou a sábia coruja meio adormecida.
- E os rios? E as árvores? E os peixes?
- Todos - grunhiu o urso pardo, com mel lambuzado.
- Então vocês também têm tradição?
- É quase isso - voou o beija-flor com seu bico pontudo e asas elétricas.
Logo aparece a coruja mais acordada para explicar.
- A língua da Natureza é outra... ela fala com Ecologia, com harmonia e amor. E só pode falar a um coração puro de um velho e sábio índio. O que está sendo comentado hoje na mata é o fato de o homem não saber direito o que o coqueiro representa.
O vento está sempre tentando animá-lo e desliza em suas folhas para seu sorriso permanecer tão verde.
- Mas o que tem o coqueiro de errado? perguntou o cacique.
- O coqueiro nada... retrucou a coruja.


E o sonho do índio começou a mudar. Os animais foram saindo com pressa e um vento forte começou a soprar, O cacique percebe que está numa praia com muitas árvores, sendo a maioria coqueiros.
Ao longe, brilhando a luz dourada de fogo.
Sozinho, sem saber o que acontecia, o velho homem de pele vermelha observa. E descobre que a mata está em chamas.
Assustado, percebe que deve se proteger. Logo vai para a água da praia e fica de longe a ver o que acontece.
O fogo chegando e os coqueiros querendo salvar todos os seus amigos, vendo madeira queimando, tentam apagar o fogo com suas folhagens. As pontas das folhas ressecam, como que se fossem as pontas de dedos. E os coqueiros, com todos seus anos de vida, também são sábios.


No calor em que estão, começam a soltar os seus côcos e estes caem entre galhos de árvores que pegam fogo. Os côcos se rompem e soltam sua água, qua mata a sede do homem, dos bichos... e côco por côco acabam por transferir a água - que evapora do mar, que vira chuva, que cai na terra e sobe por dentro do coqueiro e vira água de côco, docinha - para o chão para apagar o fogo. Que fogo? O fogo que um outro homem deixou pegar na mata, em uma queimada.
E os coqueiros, com a água dos seus côcos, junto com a chuva e todas as águas da Natureza tentam apagar o fogo, e, enfim, conseguem.

Era forte este sonho do sábio cacique, que acorda assustado. Mas por ser tão sábio, o cacique consegue entender que seu sonho era uma lenda que deveria ser aprendida por toda sua tribo. Que seus filhos e seus netos também deveriam conhecê-la.
E o cacique, acordando, exclamou:
- O coração do coqueiro é o côco! Por amor à Natureza! Pelo Homem também!
A Natureza também se protege do homem.
E o cacique de rosto de pele vermelha enrugada levou esta estória para sua tribo.

As crianças, a partir de então, começaram a aprender A LENDA DOS COQUEIROS E O FOGO. E ensinaram aos seus filhos e aos filhos de seus filhos, mais tarde.

Um dia, uma dessas crianças virou um velho e sábio cacique.

E, a contar as estrelas, como seu sábio ancestral, também adormeceu.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Eu me nego

Nova regra ortográfica. Eu amava minha língua. Eu amo falar um bom português. Mesmo que ninguem repare, perceba, eu amo falar um bom português. Ninguém repara, eu sei. Posso colocar crase em ovo, ou, como quem põe queijo ralado na macarronada, orégano na pizza, caia onde cair, ninguém repara, eu sei. O primeiro ninguém foi sem acento, o segundo com, ninguém repara mesmo, eu sei. Aí vêm uns caras que só pensaram na língua na hora de legislar. Não usam, eu sei. Agora vôo é cego, é voo, sei lá mais o que. Eu domino esta língua melhor que minha própria, eu domino, eu sei.
Nenhum medalhão bisonho me ensina ou me obriga a escrever um pior português. Crase era bom suprimir, não fizeram - ninguém sabe usar mesmo - eu sei. Os gerentes dos hífens criaram uma nova ordem - um caos. Esta, talvez, a maior burrada. Pára com isso... Confundamo-nos com as pêras e os páras sem acento. Chega de falar nesse assunto. Eu me nego, só isso.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Retro visão.

Abriu o sinal. A Cayenne de trás com o farol nos meus olhos me lembra disso. O Chevette na minha frente morreu. Ao meu lado, o Corolla já percebeu e olhou pra outro lado, para não me oferecer passagem. Ele também "não vê" o meu pisca em sua cara. Tem um Uno atrás dele, coladinho, defendendo posição. O Chevette não liga. A Cayenne ligou o pisca e se enfiou na frente do Palio que vinha atrás do Uno. O Palio dá farol. O Corolla engasgou.  Entro passando o Chevette pela direita, na frente do Corolla. O Uno, atrás do Corolla não gostou, eu sei. Vai ter troco. Ele ficou magoado, porque fez tudo certinho, colou no babaca do Corolla, q não sabe guiar, engasgou. Ele, o Uno, bate no volante,e xinga, "é uma velha guiando, caralho! Só pode ser!". Já detectamos o inimigo, nosso rival. O Uno, enfurecido, começa a ficar indócil, ziguezagueando querendo passar a "velha" do Corolla. Confesso, que, com pista livre, olhando este maluco pelo retrovisor, me regozijo. Que bom que meu caminho é a Marginal à direita. Tchau, Uno. Quero muito esquecer você.

O dia em que a Terra andou.

Tudo calmo, tranquilo mesmo. O Bill Gates reinando, aquele outro da Apple também. Google? Nem se fale. Tranquilo, tranquilo. Eis que surge um vulto com uma ideia na mão.
É ele. É o Facebook.
Parece um estágio post mortem, onde as pessoas encontram todas as que conheceram em suas vidas inteiras até então. O inconsciente coletivo tomando consciência de si mesmo. Como que se o varejo e o atacado se encontrassem na mesma prateleira. Uma espécie de "julgamento" comum, entre aceites e recusas de amizades. Reencontros. Uma lupa na ampulheta. Uma espécie de caricatura atualizada das personagens. Vinte, trinta anos sendo ligados na tomada. Bem dizia Marshal McLuhan, em seu Aldeia Global, que a mídia muda as medidas do tempo. Tempo hoje com as medidas enxutas. Geração x, y, z...
Estágio post mortem uma ova. Mais me parece um renascer.