sábado, 15 de janeiro de 2011

Amor - versão do açougueiro


Por ela, ele daria uma costela. Precisava de acompanhamento. Não era bobó - cá, todos sabiam - mas, preocupado, pensava se ela ainda usava fraldinha, pois era do tipo mignon. 
Foi dar um rolê e, se a encontrasse, veria se falavam a mesma língua ( à portuguesa ).
Ela, maturada, já dava sinais de que estava no ponto logo de cara.
Veio logo a idéia de uma dobradinha. Se a conquistasse, seria como ganhar um medalhão.
Ele queria tudo, menos levar chifres. Pensar nisso a deixou meio passada, pois sabia que era filé, mas não era do contra.
Caindo como um patinho, cuidou para que não fosse moído por ela, que já puxava a brasa para o seu lado, desde aquele dia.
Resolveram se exercitar, então, ele para aumentar os músculos, ela para perder umas gordurinhas, apesar de ele gostar mesmo é de carne.
Seria uma forma deles temperarem a relação.
Não queria levar um pé no traseiro nem entregá-la de bandeja. Não gostava de rodízio. Muito menos de banho-maria.
Entendia que para a relação durar, precisava ganhar mais carvão. Nada de miúdos, coisa grande, para guardar embaixo do colchão.
Um colchão mole, macio, seria muito melhor.
Conseguiu um emprego numa peixaria. Trabalho braçal, coisa pra fazer muqueca, mas ele não era uma ostra, nem ela um bacalhau. Este mar não daria frutos, pensou. Além de tudo o patrão era um suíno. Precisava ter fígado...  Mas, apaixonado, comportava-se como um cordeiro. Queria pintar o mundo com uma paleta. Foi quando passou pela porta de um açougue e descobriu sua verdadeira vocação.
Colocou tudo numa balança e parou de encher linguiça. Fritou o emprego antigo antes que desse bode e foi logo se candidatando. Não era nenhuma boiada, ele sabia. Entrecote e outro, descobriu que ela esperava com um baby beef, quentinho, no forno. Emocionado, colocou lenha na fogueira e disse querer mais uns dois. Era de coração. Ela, que estava longe de ter ficado um bucho, ficou encantada.
Logo abriram uma rede. Fizeram carré no ramo.
Os rebentos berravam como bezerros. 
Nunca foram salteados, graças a Deus, e a vaca nunca atolou.
Ele foi criando uma pancetta, normal, para a idade.
Mas como a criatividade era um dos ingredientes, sempre rendia um caldo.
E o fogo nunca apagou.

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