quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Salão Viana



Está na casa dos 70. 76, pra ser exato.Casou-se duas vezes. Tem uma careca brilhante muito bem aparada por ele mesmo. Aquele bigodinho. Lembra Ben Kingsley, o Gandhi do cinema.
Um senhor afável e caricato.
Aquela porta envidraçada, anos 60, emoldurada por uma madeira também antiga, de boa qualidade. Tudo simples, é verdade. Como deveria ser já no seu tempo - gente entrando de chapéu... 
Cortava o cabelo do Alckmin, que é da vizinhança. Disse que saiu na Veja de dezembro e me mostrou a reportagem.
No teto um ventilador rodando. Aquelas tesouras antigas, de metal gasto, mas muito bem afiado. A cadeira de sua idade, funcionando perfeitamente.
É o “seu” Viana, quase extinto “Barbeiro Masculino”, aquele que usa navalha, não lava seu cabelo nem antes e nem depois de cortar. Voz calma, conhece todo mundo no bairro.
“- Seu Viana! Está cheio hoje?” - pergunto pelo telefone.
“- Pode vir!” – responde o simpático, metódico e viajado senhor.
Quando chego, está escondidinho na “cozinha”, almoçando. Diz que vai logo me atender. Depois de meia hora comendo devagarzinho, sem a menor pressa mesmo, faz mais uma vez a mesma pergunta de todo mês:
“– Como vai ser hoje? Máquina dois?”
“- Máquina um, seu Viana.”
Se o papo engrena, ele pára o serviço, demora, para se alongar no assunto. Fica animado, perde o foco, vive fazendo isso. E eu lá, de moicano, me olhando no espelho e esperando.
Passam um, dois, três clientes:
“- Seu Viana! Demora?”
“- Quinze minutinhos!”
Ontem me contou que o proprietário solicitou o imóvel. Fiquei perturbado.
Ele calmo, como sempre, disse estar tranqüilo.
Bem que ele disse que ia chover loguinho. Eu discordei...
Salão Viana. É uma estrela, este velhinho.
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