Está na casa dos 70. 76, pra ser exato.Casou-se duas vezes. Tem uma careca brilhante muito bem aparada por ele mesmo. Aquele bigodinho. Lembra Ben Kingsley, o Gandhi do cinema.
Um senhor afável e caricato.
Aquela porta envidraçada, anos 60, emoldurada por uma madeira também antiga, de boa qualidade. Tudo simples, é verdade. Como deveria ser já no seu tempo - gente entrando de chapéu...
Cortava o cabelo do Alckmin, que é da vizinhança. Disse que saiu na Veja de dezembro e me mostrou a reportagem.
No teto um ventilador rodando. Aquelas tesouras antigas, de metal gasto, mas muito bem afiado. A cadeira de sua idade, funcionando perfeitamente.
É o “seu” Viana, quase extinto “Barbeiro Masculino”, aquele que usa navalha, não lava seu cabelo nem antes e nem depois de cortar. Voz calma, conhece todo mundo no bairro.
“- Seu Viana! Está cheio hoje?” - pergunto pelo telefone.
“- Pode vir!” – responde o simpático, metódico e viajado senhor.
Quando chego, está escondidinho na “cozinha”, almoçando. Diz que vai logo me atender. Depois de meia hora comendo devagarzinho, sem a menor pressa mesmo, faz mais uma vez a mesma pergunta de todo mês:
“– Como vai ser hoje? Máquina dois?”
“- Máquina um, seu Viana.”
Se o papo engrena, ele pára o serviço, demora, para se alongar no assunto. Fica animado, perde o foco, vive fazendo isso. E eu lá, de moicano, me olhando no espelho e esperando.
Passam um, dois, três clientes:
“- Seu Viana! Demora?”
“- Quinze minutinhos!”
Ontem me contou que o proprietário solicitou o imóvel. Fiquei perturbado.
Ele calmo, como sempre, disse estar tranqüilo.
Bem que ele disse que ia chover loguinho. Eu discordei...
Bem que ele disse que ia chover loguinho. Eu discordei...
Salão Viana. É uma estrela, este velhinho.
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