domingo, 16 de janeiro de 2011

Amor - versão do peixeiro



Ela buscava um namorado. Rezava com o saint-peter de sua devoção.
O cherne da questão era achar alguém digno, nunca gente que gostasse de surubins.
Viver numa concha. Ela seria a pérola da relação.
Não queria nada dado de abadejo, queria mesmo procurar. Suas amigas saíam, mas também de garoupa na balada dos outros não seria legal. Apareciam muitos mexilhões, apenas para mexer com os sentimentos dela. Era pescaria. Peixe na telha quente, coisa para grelhar. Mesmo porque não gostava de lugar fechado, parecendo lata de sardinha. Muito pitu... Aquela fumaça...
Queria alguém que vatapá sua panela, não gostava dos mariscos, ariscos, que sumiam sem avisar. Baladeiros vão pra rua e pronto: pirão com bebida alcoólica e ervas. Depois cação.
Não. Anchova mesmo que era muito picante. Isso nem pintado.

Não queria alguém comprometido, não queria robalo. Dava lagostim de vitória, mas era uma isca errada.
Existia seu king crab, ela sabia. No vapor da emoção, ela, siri pescada, sabia. Ele diria as coisas sem ficar vermelho. Aquele beijo linguado... Um frio na espinha... Ela iria para a lula... Lagosta de ficar... Nunca entraria pelo kani. Todo polvo iria saber. Atrapalhar? Nem adiantava tentáculos.
E aconteceu. Era arraia. Todos dançavam.
Provençal a timidez, enquanto fazia sushi, no banheiro, pensava se devia falar com ele. Treinava. Rolasse como rolasse. Alga assim natural. Paella? Tudo bem. Ela não era escamosa, apesar de fresca. Só não queria se sentir numa panela de pressão.

Ele estava de fogo baixo. Não era tão jovem. Ela gostava de guisado.
A chapa esquentou e acabaram se conhecendo.

– Alcaparras com isso... disse ela , pois ele estava meio guloso, uma porção de salmão boba. Parecia um tubarão.
Colocou as barbatanas de molho.
Ela comeu muito. Se sentia uma baleia. Não queria que ele notasse e pulasse fora.

Criaram uma raiz forte logo de cara.
Ele pensava que seria dois palitos, mas percebeu que não podia meter a colher, assim. Sabia que peixe morre mesmo é pela boca. Resolveu alimentar a situação.

Foram se conhecendo e descobriram um ponto de ebulição.
Depois perceberam estar no mesmo barco.
Mesmo às vezes aparecendo algumas piranhas nunca criaram truta nesta receita de paixão.

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